A Região Demarcada de Produção de Queijo Serra da Estrela situa-se na Bacia Hidrográfica do Alto Mondego e engloba áreas de 18 concelhos. O queijo, aqui produzido, é um produto secular com características e qualidades únicas.
Reconhecido muito além da sua área de origem é, talvez, o queijo tradicional português mais representativo e afamado, tendo sido o primeiro a lhe ser reconhecida a sua tipicidade e genuinidade através da publicação do Decreto Regulamentar nº 42/85 que cria a Região Demarcada do Queijo Serra da Estrela, definindo a área abrangida e as condições a que o produto terá de obedecer.
Indústria artesanal de extrema importância, para uma região cada vez mais deprimida, a produção queijeira tem enfrentado os inúmeros problemas e condicionalismos, alguns deles inultrapassáveis, com alguma dificuldade e nem sempre de forma correcta e coerente.
As funções que estas agro-indústrias desempenham na diversificação das fontes de rendimento, na manutenção e valorização dos sistemas regionais de agricultura e dos recursos endógenos, na criação de emprego e oferta de produtos de qualidade, justificam os sucessivos ajustamentos que a legislação que regulamenta o sector tem sido submetida, por forma a responder e adaptar-se às características e necessidades dos “nossos” produtores.
No entanto, e tendo em conta as condicionantes sociais, estruturais e económicas destas pequenas unidades produtivas, a legislação regulamentar tem se revelado pesada, sendo constituída por exigências, variáveis e formalidades dispersas, não vocacionadas para as iniciativas produtivas de pequena escala.
Área Geográfica de Produção do Queijo Serra da Estrela
Em termos geográficos, a área de produção de Queijo Serra da Estrela, corresponde à bacia hidrográfica do Alto Mondego (encosta NW da Serra da Estrela e zona adjacente que se estende até ao rio Dão), englobando uma superfície total de 3143,16 Km2.
Esta área, estabelecida através do Decreto Regulamentar nº 42/85 de 5 de Julho, abrange 18 municípios de 4 distritos: Aguiar da Beira, Celorico da Beira, Fornos de Algodres, Gouveia, Guarda, Manteigas, Seia e Trancoso (distrito da Guarda); Covilhã (distrito de Castelo Branco); Arganil, Oliveira do Hospital e Tábua (distrito de Coimbra); Carregal do Sal, Mangualde, Nelas, Penalva do Castelo, Tondela e Viseu (distrito de Viseu).
A ovelha Serra da Estrela é a raça ovina autóctone que aqui tem o seu Solar. Esta raça ovina é a produtora de leite para o Queijo e Requeijão Serra da Estrela. Pastoreia em solos de natureza aluvionar (zona ocidental), mas sobretudo, e caminhando para a nascente do rio Mondego, em solos graníticos e xistosos com baixos pH. Um habitat onde a precipitação média anual varia de 700 mm a 2400 mm, estas últimas precipitações a ocorrer na vertente sul da Área Geográfica de Produção.
O mês mais frio é o de Fevereiro, sendo o mais quente para os concelhos orientais Julho, e para os mais ocidentais Agosto. As geadas ocorrem com maior frequência no mês de Janeiro, iniciando-se em Outubro e terminando em Março.
Numa região caracterizada por uma baixa densidade populacional, crescente envelhecimento da população, grande debilidade do tecido económico, falta de mão-de-obra qualificada e de capacidade empresarial, o sector primário, e a ovinicultura associada ao fabrico de queijo em particular assume-se, ainda, como uma importante fonte de rendimento, concorrendo de forma expressiva para o desenvolvimento sustentável da região.
As Explorações Ovinas do Municipio de Fornos de Algodres – Sistema de Produção
As explorações ovinas da região do Municipio de Fornos de Algodres funcionam, quase exclusivamente, pela força do trabalho dos seus agregados familiares. De facto, o peso dominante desta situação permite-nos incluir estas unidades produtivas, de forma inequívoca, na agricultura familiar.
Na esmagadora maioria destas unidades produtivas, o criador de ovinos, gestor da exploração e chefe do agregado familiar, é igualmente o pastor que acompanha e guarda o rebanho.
A especialização das explorações ovinas na produção de leite é um reflexo da importância que o Queijo Serra da Estrela representa como produto.
O fabrico do queijo está a cargo da mulher do chefe da exploração e pastor, coadjuvada por outro elemento da família, sempre que a produção o justifique.
A dimensão reduzida do rebanho reflecte, nesta região, a dimensão da exploração e sua capacidade de exploração.
Os rebanhos são constituídos essencialmente por ovinos da raça autóctone Bordaleira Serra da Estrela, que aqui têm o seu solar.
Alimentação
O regime alimentar dos animais, ao longo do ano, é sustentado nas pastagens e forragens.Para pastagem Outono – Invernal utilizam-se, essencialmente, o centeio, aveia e azevém.
Para forragem são feitos os seguintes afolhamentos:
Consociação para feno (aveia, centeio e azevém)
Milharada
Sorgo forrageiro (menos frequente)

As pastagens naturais e os matos assumem, ainda, uma importância relevante neste regime alimentar, juntamente com os restolhos e outros sub-produtos.
A percepção de que uma boa produção é fortemente influenciada pelas flutuações do plano alimentar ao longo do ano, bem como a evidente limitação à produção de pastagens no Inverno, devido ao facto da temperatura baixa do ar interromper ou diminuir substancialmente o crescimento das plantas, conduz não raras vezes a uma suplementação, durante os principais meses de lactação, com alimento composto.
Apesar das inúmeras condicionantes, os produtores tentam fornecer ao rebanho uma alimentação adequada, tendo em conta os períodos mais delicados do ciclo produtivo, a sua situação corporal, bem como o facto dos animais não se encontrarem todos dentro da mesma situação de idade, peso, estado reprodutivo e crescimento.

Parições

As parições podem teoricamente ocorrer ao longo de todo o ano, mas os pastores adaptam-nas aos recursos da exploração e aos interesses económicos determinados pelo mercado.
A calendarização do ciclo produtivo está estabelecida de tal forma que permite identificar a Primavera como a época de cobrição preferida.
Esta escolha é condicionada pelos seguintes factores:
– O queijo, produto de maior cotação cuja melhor época de fabrico se situa entre Dezembro e Abril, altura em que as condições ambientais (temperatura e humidade) são favoráveis;
– O valor comercial mais elevado dos borregos de canastra, comercializados na época de natal;
– As disponibilidades alimentarem que permitem aos animais manter uma lactação normalizada;
– O trabalho, menos exigente de maneio do rebanho, na altura das culturas de Primavera/Verão.

Desta forma, em Abril e Maio processam-se as cobrições para que se verifiquem em Setembro e Outubro os nascimentos dos borregos.
Uma época de cobrição complementar efectua-se entre Julho e Outubro para as fêmeas não fecundadas na primeira cobrição e para as malatas nascidas na Primavera anterior.

Lactação e ordenha

A entrada das ovelhas em ordenha inicia-se logo após o desmame dos borregos, que, para alargar ao máximo o período da ordenha, é efectuado normalmente entre os 20 e 30 dias após o parto, dependendo, também, da sua comercialização e da retirada atempada dos borregos por parte dos “negociantes”.
Após o desmame dos borregos e até Abril/Maio, as ovelhas são ordenhadas duas vezes por dia, de manhã cedo e ao fim da tarde. Após a primeira ordenha, entre as 6 e 8 horas, os pastores levam o rebanho para os pastos, regressando os animais ao ovil entre as 17 e 20 horas, período em que é efectuada a segunda ordenha. Próximo do final do período da lactação passa a fazer-se apenas a ordenha da manhã, suspendendo-se completamente durante o mês de Junho.

Tecnologia de Fabrico de Queijo

No processo de fabrico do queijo a variabilidade de técnicas e práticas artesanais é ainda uma constante, isto apesar do fabrico ter como base procedimentos tecnológicos comuns.
De facto, e apesar da evolução verificada com a introdução de algumas inovações tecnológicas que contribuem para uniformizar alguns factores, diferentes intervenções são efectuadas nas mesmas operações tecnológicas.
O produto obtido apresenta, desta forma, características com enorme variabilidade de zona para zona, ao longo da campanha de produção e na mesma queijaria.
As operações tecnológicas básicas do processo de fabrico do queijo de ovelha curado, produzido na área de produção do Queijo Serra da Estrela, são: preparação do leite, coagulação, trabalho da coalhada e dessoramento, salga, fermentação e maturação.
Estas operações tecnológicas são respeitadas por todos os processos de fabrico, mas estes apresentam particularidades e intervenções que permitem afirmar que nenhuma tecnologia de fabrico se repete.

«O interesse regional e nacional justifica plenamente a promoção de acções que defendam o mais afamado de todos os queijos regionais – o Queijo “Serra da Estrela” – que, a par das suas características de qualidade, tem mantido há centenas de anos o cunho artesanal, onde pode integrar-se com inteira propriedade no vasto e rico património cultural do planalto beirão. A produção do queijo “Serra da Estrela”, embora já assuma importância relevante, poderá, no entanto, ser desenvolvida, quer no aspecto quantitativo, quer melhorando e defendendo a sua qualidade e genuinidade, explorando as condições potenciais existentes e promovendo a elevação do nível sócio-económico das populações da região.» – Decreto Regulamentar n.º 42 / 85 de 5 de Julho

As Autarquias, cada vez mais abrangentes na sua acção, perfilam-se como o pilar mais importante no desenvolvimento local e bem estar das populações.
O desenvolvimento integrado e harmonioso do município de Fornos de Algodres passa inevitavelmente pelo aproveitamento equilibrado das suas potencialidades endógenas e não apenas na satisfação das necessidades básicas da população.
A sustentabilidade económica das populações, como componente dinamizadora e integrante desse desenvolvimento, ocupa cada vez mais um estatuto central na acção das autarquias, principalmente as situadas nas áreas rurais do interior do Continente.
Fornos de Algodres, exemplo claro de município rural, caracteriza-se por uma baixa densidade populacional, grande debilidade do tecido económico e uma forte dependência do sector primário.
A Ovinicultura associada ao fabrico de queijo é uma das componentes económicas mais importantes do município de Fornos de Algodres, contribuindo decisivamente para o bem estar da população e para o desenvolvimento sustentado do concelho.
Todas as freguesias do concelho de Fornos de Algodres são parte integrante da área da Região Demarcada de Produção do Queijo Serra da Estrela.
Esta industria caseira figura no primeiro plano, não só das actividades relacionadas com a vida rural, mas de todas actividades económicas do concelho, representando uma valiosa fonte de receitas para um município desfavorecido como é o caso de Fornos de Algodres.
Por outro lado, o património cultural que o queijo por nós produzido “transporta” é enorme, já que mantém uma tradição secular fruto de uma experiência colhida através de centenas de anos de trabalho.

O Queijo “Serra da Estrela” produzido no nosso concelho tem como base os sistemas tradicionais, quer de produção de leite quer de produção de queijo.
Com o cunho dos prados verdes, dos lameiros e pastos naturais, o leite das ovelhas Bordaleira Serra da Estrela, é marcado ainda pela aveia, centeio, azevém, milho e sorgo semeados pelos produtores.

No município de Fornos de Algodres são produzidos diferentes variedades de queijo – Queijo Serra da Estrela (com certificado oficial de qualidade), Queijo Serra da Estrela Velho ( com certificado oficial de qualidade ), Queijo de Ovelha Amanteigado, Queijo de Ovelha “Velho”, Queijo de Cabra, Queijo de Mistura – que apresentam um traço de união: a forma artesanal como são produzidos e a sua qualidade.

Neste alavão de 2007/2008, estes atributos são ainda sustentados pela promoção e aplicação nas unidades produtivas de queijo do município, de um Plano de Segurança Alimentar, Boas Práticas e Autocontrole, baseado nos princípios do HACCP, adaptado á legislação vigente e às condições e características dos nossos produtores. Com o objectivo de validar este Sistema de Controlo de Qualidade efectuamos uma parceria com um laboratório externo acreditado e independente, o qual nos vai permitir efectuar controlos analíticos, para uma produção de queijo com elevados padrões de qualidade.

Apreciar um bom queijo e um bom vinho num ambiente rústico, e usufruir da paisagem magnifica e da calma das nossas quintas, são momentos únicos. Visite-nos e comprove!

João Pina Gomes
Gabinete Técnico de Apoio ao Ovinicultor